sábado, 24 de dezembro de 2005

A Fábrica do Nada

Uma fábrica de cinzeiros fecha e os trabalhadores, não querendo ficar desempregados, resolvem continuar a trabalhar numa nova produção: nada.
Á volta de nada organiza-se tudo, desde a escolha do gerente da fábrica, aos furtos dos produtos e aos tribunais, com muita música cantada e tocada a mostrar por que caminho segue esta história.


Estes operários que preferem fazer nada a nada fazer inscrevem-se mais na linha do saber ver quando se vê do Alberto Caeiro e do fazer não fazendo do Lau Tsu, do que no preferia não o fazer do Bartleby. Em lugar da angústia do desaparecimento das coisas e dos seres que a palavra vazio sugere, o vazio que o patrão deixa ao fechar a fábrica permite o vazio do espaço côncavo em que tudo pode acontecer precisamente porque está vazio.


Permite a boa projecção do som.
E os músicos, atrás dos actores, seguem atentamente o que se vai passando com as vozes.


Estes operários dizem-nos assim, a cantar: a fábrica fecha, não faz mal, nós continuamos na mesma, não nos vão ver aos molhos nos noticiários a protestar à porta da fábrica, nem vamos calados para casa perder a nossa dignidade no sofá. Não precisamos de mais nada do que estarmos uns com os outros porque força como esta só existe outra, que também temos:
a música.