sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Confissões de um Sinestésico

Eu cheiro os sons, eu ouço as cores.


A partir de agora pense como um “sinestésico”, daqui pra frente realize a leitura deste texto como um indivíduo que possa ouvir cores e cheirar sons.
O Dr. Timothy Leary (1920-1996) Psicólogo e Filósofo Norte Americano, defensor e divulgador do uso do LSD ( ácido lisérgico ) elaborou mais de 20 teses científicas explorando a possibilidade de ouvir as cores e cheirar os sons através do uso de psicotrópicos.
No entanto, existem pessoas que escutam os sons das cores sem o auxílio do método utilizado pelo professor Leary. Um sinestésico pode ouvir as cores e inclusive cheirar os sons.
Para alguns pesquisadores a Sinestesia é um estado de confusão sensorial onde nossos sentidos confundem-se entre si e geram situações no mínimo surreais.
Explicando popularmente, a sinestesia pode ser uma relação subjetiva, que se estabelece espontaneamente entre uma percepção, e outra que pertence ao domínio de um sentido totalmente diferente.
Seria como um perfume invocar uma cor ou um som invocar uma imagem.
Além de pitoresco, - e ao meu ver extremamente prazeroso - este fenômeno permite investigar um universo totalmente inédito onde nos damos conta de que quem realmente vê, sente e escuta não é o olho, o tato ou o ouvido, mas sim o cérebro.
Para um portador de Sinestesia todas as cores possuem um sentido absolutamente ímpar, exclusivamente singular. As finalidades dadas ao uso das cores passam a ser um mero detalhe, quebrando inclusive as teorias de Cromoterapia, de Pintura Estética, de Marketing e de Propaganda que associam o uso de determinadas cores para divulgação, venda e consumo de alguns produtos.
Quando descobri a Sinestesia através de um livro do Doutor Timothy Leary fiquei realmente impressionado, confesso que um pouco solícito e preocupado com os efeitos irreversíveis que uma pessoa portadora de tal anomalia apresenta, mas logo em seguida meus desejos e pensamentos foram da compaixão à inveja.
Fiquei curioso e perplexo, sedento por novas informações recorri aos mais variados temas que abordassem o assunto.
E inconscientemente, tornei-me um especialista no mesmo.
Deixei de considerar o fato de que um sinestésico possa ter eventuais problemas profissionais ou melindres de adaptação social, exclui a possibilidade do surgimento de uma paranóia ou uma loucura e passei alguns dias tentando inutilmente decifrar o cheiro que exalava da música “Haja o que Houver” do conjunto português Madredeus, com o mesmo ímpeto fiz papel de louco tentando conversar com um sofá azul que tem na minha sala.
Procurei afoito rever todas as grandes pinturas, de Rafael a Basquiat e por incrível que pareça - pasmem - ouvi uma voz saindo do quadro “ O grito “ do Norueguês Edvard Munch.
Os “Girassóis” então...Deixaram-me quase surdo, como era seu pintor.
Passaram-se alguns dias e treinando minha percepção sinestésica voluntária me aproximei rente a uma famosa gravura e recebi um singelo Bom-dia. Adivinhem de quem: da própria “La Gioconda”.
Tornei-me um apreciador fervoroso dos tons pastéis, são os que mais falam coisas belas e o azul passou a ser meu confidente oficial, sempre prestativo, altruísta e otimista.
Minha imaginação estava dando saltos de alegria, meus olhos lacrimejavam, meus sentidos totalmente enlouquecidos não sabiam mais pra que serviam, as pessoas olhavam preocupadas ao me verem cheirando sons que saiam dos autofalantes e ao invés de observar quadros e pinturas com aquela postura característica e ereta, eu logo me lançava com o ouvido direito em frente à imagem.
Através de experiências práticas compreendi o porque é tão usual relacionarmos a cor vermelha ao amor e a paixão.
Quem usa vermelho sempre tem uma segunda intenção.
Custei a perceber os benefícios que minha fértil fantasia havia trazido para minha compreensão de forma, volume, textura, tempo e espaço, fiquei até preocupado em tornar-me um louco, esquizofrênico e desqualificado, foi então que voltei à leitura do Professor Leary, mas descobri que em momentos antes de sua morte suas únicas palavras foram: - Por que não!!!
Passei a acreditar em mim novamente, voltei a acreditar nos sons das cores, nos cheiros dos sons, afinal...
Se hoje eu acreditasse somente no que eu vejo...Eu não poderia fazer poesia.
“Quem foi que disse que as cores não têm cheiro?”.
O cheiro da cor cinza, está na cinza do cinzeiro...”

Augusto Nesi Junho de 2004

2 Comments:

Blogger sm said...

Já senti o cheiro das palavras mudas que me inundavam os olhos, ouvi o eco dos traços desenhados por pincéis carregados de cores num quadro acabado e cheguei mesmo a ver aquela música desenhar-se aos meus ouvidos como se estivesse a escrevê-la... Mas a experiência mais profunda foi quando acariciei o perfume do meu amor...

10:39 da manhã  
Blogger Naty said...

Nem acabei de ler seu primeiro texto mas sei que preciso falar com vc. Tenho uma comunidade no orkut dedicada ao tema. http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=3907592

Gostaria muito que vc fizesse contato comigo.

pecorone@hotmail.com

5:23 da tarde  

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