domingo, 3 de abril de 2005

Lunar

"O brilho nas pedras do passeio. Dentro do nevoeiro, há
pontos de luz
mais grossos a brilharem. Moedas lançadas para um lago
cheio de desejos.
Caminho entre o brilho. Os meus passos afastam-me de nada.
Existem veios
de medo na brisa que atravesso. Linhas de medo que me
tocam a pele.
Atravesso a brisa e sou atravessado por uma voz que me diz:
não podemos ser
felizes. O medo. Sobre mim, o céu é o tempo do mundo.
Todo o tempo de
todas as pessoas do mundo. O céu é nunca mais. A lua somos
nós, aquilo que
fomos. Como a memória, a lua existe nesta manhã para nos
lembrar que
existiram noites, que existiu esta noite em que nos
separámos. Caminho
sobre a organização das pedras do passeio, a organização do
nevoeiro.
Rodeada pelo tempo do mundo, por nunca mais, a lua somos
nós."

José Luís Peixoto