domingo, 20 de março de 2005

Poema V

-
-
Vendeu-se o mundo.
O sonho já não move as águas.
A chuva já não cai no mesmo chão.
As cores são de plástico e os cheiros morreram.
-
Derrubou-se o rei!
-
A rainha soltou as rédeas ao cavalo e partiu.
Os charcos secaram e as montanhas sucumbiram.
Vendeu-se o mundo.
O encantador de cavalos já não sonha.
Domaram-se as éguas e os pastos secaram.
-
O sorriso já não mora nos rostos secos das gentes.
Os filhos viajaram para longe.
Levam os netos. Sem estratégia.
O bispo já não está só.
A torre em horizonte desmorona-se.
Babel, vendeu-se o mundo.
A tua torre. É de pedra.
Mas também cai.
-
O mundo caiu. Sucumbiu.
O frenesim dos vapores, asilações das grandes cidadelas.
O Taj Mahal. Paris.
Metropolitanos parados.
-
E um sangue de saliva e raiva que adormece.
A inconstância insalumbre do
comércio de almas e cantos. Prantos.
Vendeu-se o mundo.
A preço de amigo.
Postigo, falange, carne de horrores.
-
-
Vendeu-se o mundo, Meus Senhores!
E o tabuleiro ficou vazio..