sábado, 7 de março de 2009

Memórias de uma infância 1

Depois da operação vem o recobro, a seguir ao recobro vem a velha tradição.
Vou para o quarto onde estão os outros meninos. Alguns já operados em recuperação como eu, outros aguardam a sua operação.

O Miguel já estava a minha espera, sempre a falar muito de quem era novo e de quem não era, e das saudades que tinha de ir para casa e que nunca mais ficava melhor.
(a sua linguagem era única, só quem o conhecesse a mais tempo é que saberia escutá-lo).

Ainda estou grogue da anestesia, não entendo nada do que ele diz. Tento arrastar a mão para debaixo da almofada a procura da surpresa, mas não consigo. Volto a dormir.

Acordo no meio do chão, as Sras Enfermeiras esqueceram de colocar as grades, um enorme galo na testa, todos acordam com a minha queda.
Começa o burburinho habitual num quarto com cerca 6/7 crianças e tudo a rir de mim.

Lá veio a Sra Enfermeira pegar-me ao colo e a por-me na cama, verifica que não foi nada de mais e lança o seu “ppxxiiuu” famoso.
É agora que vou ver a surpresa, reparo que me deixaram balões, penso que amanhã vou ter de pedir a alguém para mos enxer, para depois os estoirar (obviamente).

No dia seguinte, lá andava eu a pedir que me enxessem os balões, com o meu “lençol” atrás e mais um enorme galo na cabeça.
O “lençol” era um babete que eu tinha sempre para depois das operações, devido a anestesia os meus músculos da boca não funcionavam a 100% e entao babava-me muito. Era assim que me tratavam “A menina do lençol”.

1 Comments:

Blogger Damour Pourtoi said...

Ainda hoje me babo. Quando estou distraída, ou no banho.
Ainda não experimentei encher balões, daqueles que enchia, os compridos. Para modelar. Fazer cães e espadas e chapéus.

Estou a crescer outra vez, sem a crueldade honesta das crianças, mas com a compaixão hipócrita dos adultos.

Malui piripipi, sabes mais que eu, o que neste caso não é bonito. Quando "formos grandes" faço-te um chapéu em troca dum acorde.

9:24 da tarde  

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