quinta-feira, 26 de março de 2009

Memórias de uma infância 2

Quando não estava em recuperação de uma operação, andava sempre em vários médicos e terapeutas. Era a terapeuta da fala duas vezes por semana, era o dentista no mínimo uma vez por semana.

No dentista eu chegava à “minha” cadeira, sentava-me, esperava que o médico me subisse, esticasse e apontasse a luz para a minha boca, a rotina de sempre.
Ele era sempre um doutor mestrado professor, que depois chamava os seus colegas doutores mestrados professores, que depois chamavam os seus melhores alunos, que depois chamavam a escola inteira.

Resumindo, nunca tinha apenas uma pessoa a mexer-me na boca e a medir a altura/comprimento/área de cada um dos meus dentes, assim como, a aplicação do fluor e a teoria de qual a melhor maneira de eu lavar a minha boca diariamente.

Sei que a monotonia de estar para ali deitada a mexerem-me na boca era tal, que eu pura e simplesmente adormecia.

Era a paciente fácil, assim me chamavam, pelo facto de dormir na cadeira e não me incomodar com o que me faziam na boca.