quinta-feira, 28 de maio de 2009

Memórias de uma infância 4

Natal sinónimo de muita atenção às criancinhas.
Não sei como é agora, mas no “meu tempo” o natal nos hospitais tinha uma missa uns dias antes do próprio dia.

Naquele natal, eu estava em mais uma das minhas estadias pelo hospital, as senhoras enfermeiras já não deviam poder ver-me a frente e disseram que no dia seguinte eu e o Miguel iamos ter uma surpresa.

No dia seguinte eu e o Miguel lá fomos acordados tomamos o pequeno almoço e a senhora enfermeira diz-nos que temos de ir agasalhados e que temos de ir com ela a um sítio.

Recordo-me de não haver robes para o nosso tamanho e como estavamos muito curiosos, enrolamo-nos nos próprios cobertores e dissemos q estavamos prontos!...

Devo mencionar que o Miguel já não conseguia falar, mal ouvia, e tinha uma personalidade um pouco “bicho do mato”. E eu na altura também não conseguia falar, babava-me de 5 em 5 minutos, tinha o soro “agarrado” ao meu braço e tinha um enorme penso na cara.

Enroladinhos nos cobertores, nestas figuras, lá vamos a seguir a enfermeira pelo hospital fora, andamos imenso… Finalmente chegamos a uma capela! Com imensa gente já lá dentro (tudo adultos).

Continuamos a seguir a enfermeira mesmo para a primeira fila de bancos lá a frente!! Um para cada lado… De notar que a partir do momento que entramos na capela, todos os olhos nos seguiam até nos sentar-mos.

Já sentadinhos, começa a missa… Missa alemã….. Eu bem me parecia que os adultos não eram portugueses!... Um frete de 3 horas aproximadamente, o Miguel só olhava para mim na outra ponta a tentar perceber o que se passava, e eu só me ria.

No fim da bela missa, os tais adultos começam a vir ter conosco e a poisar sacos e prendas e brinquedos e tudo o que possam imaginar, nós ainda enrolados nos cobertores a olhar para aquilo e a tentar perceber se era para nós.

Vieram duas enfermeiras, com dois carrinhos de compras, enxeram os carrinhos e disseram para as seguirmos, voltamos para o quarto com dois carrinhos de compras cheios de brinquedos e chocolates e afins!

Imaginam um quarto de crianças doentes (com soros, pensos, e mazelas), aos gritos e a tirarem tudo dos carrinhos? E o pesadelo das enfermeiras a tentarem acalmar este grupo?

Lembro-me de andar já a vomitar sangue tal era a excitação da brincadeira.. Enfim…

Miguel, este texto é dedicado a ti, foi dos poucos dias que te vi a jubilar de felicidade e todo lambuzado com os chocolates que as enfermeiras não te conseguiam tirar.